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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Transtorno alimentar: uma problemática quase invisível?

Um relatório divulgado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre receitas de remédios que visam o emagrecimento, “sugere um desvio de prescrição em relação às drogas anorexígenas ... [ ] mostra que, entre os dez maiores prescritores de sibutramina no país, está um médico especialista em medicina do tráfego. Entre os dez que mais receitam anfepramona (outro tipo de anorexígeno) estão um ginecologista e um gastroenterologista. O maior prescritor do femproporex (outra droga do tipo) é um dermatologista. No caso do mazindol, um quarto remédio da categoria, há um pediatra entre os que mais receitam. Os dados fazem parte do primeiro relatório do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados... [ ]. A análise dos dados também revela que em 2009 foram vendidas quase seis toneladas de anorexígenos no país. Desse total, a sibutramina responde por quase duas toneladas e a anfepramona, por três ... [ ] é como se todo brasileiro tivesse ingerido um comprimido do remédio (sibutramina) em um dia no ano” (Folha de São Paulo – caderno Saúde do dia 31/03/2010).

Dados expressivos como esses me fazem pensar que existe uma problemática relacionada ao reconhecimento de transtornos de ordem alimentar, que, se parece invisível até mesmo para alguns da classe médica, o que dirá para leigos (as) sujeitos (as) a toda uma pressão advinda de uma cultura da estética (leia-se magreza) imposta pela sociedade atual da qual compactuamos e retro-alimentamos. Para Debord (1997), o contexto social e cultural pós-moderno, favorece o aumento da incidência de transtornos alimentares, por haver uma articulação entre a subjetividade e os interesses sociais. Outros estudiosos do assunto, afirmam que a gravidade, a multidimensionalidade da problemática dos transtornos alimentares, a multifatorialidade de causas e o seu difícil manejo, exige uma intervenção abrangente e interdisciplinar. Estão envolvidos fatores psicológicos, biológicos, familiares e sócio-culturais, não sendo possível determinar se há predomínio de um fator sobre o outro. Os mesmos fatores citados são entendidos também como mantenedores dessas desordens (Nunes et al, 1998) o que atesta a complexidade da situação e a necessidade de um esforço conjunto para a compreensão e enfrentamento da problemática.

Estou me referindo aqui, mais especificamente, a transtornos graves como a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa que iniciam com um comportamento alimentar inadequado para a manutenção da saúde que, por vezes passa despercebido por muito tempo por familiares e amigos até se tornarem efetivamente riscos para a sobrevivência de quem sofre deste tipo de transtorno. Sabe-se que, tanto a anorexia como a bulimia, são tipicamente psicopatologias, pois a subjetividade expressada através do fator emocional é preponderante para o aparecimento dos sintomas. Estas síndromes, por vezes se cruzam, se revezam e se inter-relacionam. Dados estatísticos revelam que 20 a 30% das bulímicas apresentam quadro anterior de anorexia nervosa e 50% das anoréxicas apresentam episódios bulímicos. Ambos têm apresentado aumento significativo da incidência na atualidade. A prevalência da anorexia é de 0,5% a 2,0% de adultos jovens ocidentais, entre as idades de 13 a 18 anos, raramente antes da puberdade. Para a bulimia, a ocorrência é prevalente entre as idades de 18 a 24 anos e ocorre em 1 a 1,5% da população geral. Ambas são mais freqüentes no sexo feminino na proporção de 1:10 (Vilela, 2000).

É importante que as famílias e pessoas mais próximas estejam atentas às manifestações e características destes transtornos de modo a percebê-los e tratá-los precocemente com a devida atenção, buscando, de preferência, ajuda profissional de equipe interdisciplinar qualificada.

· medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gorda(o), estabelecendo um baixo limiar de peso a si própria(o), mesmo estando com baixo peso.

· distorção da imagem corporal (sensação e percepção de estar gorda mesmo estando muito magra).

· utilização de mecanismos compensatórios para evitar ganho de peso através da auto indução de vômitos, uso de laxantes, anorexígenos e diuréticos, além de exercícios físicos intensivos e vigorosos.

· períodos de restrição alimentar, seguidos ou não de episódios de compulsão

alimentar

· foco excessivo na questão alimentar.


* em Florianópolis o tratamento em Transtornos alimentares é administrado nas dependências do Núcleo de Capacitação Técnica do HU, pelo Programa de Residência Médica Psiquiátrica do IPQ, com atendimento médico psiquiátrico sob preceptoria do Dr Luiz Rath, além de grupos de psicoterapia e de familiares realizados pelas psicólogas Selma Caselli e Rosana Borchardt.