Seja bem-vindo!


Faça uma boa leitura. Prestigie-nos com seus comentários, críticas, sugestões.

Somos gratos por sua visita!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

SOBREVIVENTES

Essa semana recebi um e-mail com o título: Sobreviventes.

Fala sobre a infância de quem viveu na época dos anos 60, 70 e 80. Ao mesmo tempo que foi delicioso relembrar algumas coisas das quais ainda tive a oportunidade de vivenciar, também li o e-mail com um olhar psicológico, o que as vezes é inevitável.

O e-mail inicia assim:

“RESPONDA UMA COISA:

Você que teve sua infância durante os anos 60, 70, 80...

Como pôde sobreviver?”

E então começa a citar diversas situações que as crianças dessas épocas vivenciavam, principalmente as brincadeiras ao ar livre, envolvendo criatividade e muita atividade corporal.

“A gente andava de bicicleta para lá e pra cá, sem capacete, joelheiras, caneleiras e cotoveleiras...”

“Bebíamos água da torneira, de uma mangueira, ou de uma fonte e não águas minerais em garrafas ditas “esterilizadas”...”

“Construíamos aqueles famosos carrinhos de rolimã e aqueles que tinham a sorte de morar perto de uma ladeira asfaltada, podiam tentar bater records de velocidade e até verificar no meio do caminho que tinham “economizado” a sola dos sapatos, que eram usados como freios... E estavam descalços...

Alguns acidentes depois... Todos esses problemas estavam resolvidos!”

“Íamos brincar na rua com uma única condição: Voltar para casa ao anoitecer!

Não havia celulares... E nossos pais não sabiam onde estávamos! Incrível!!”

“Tínhamos aulas só de manhã, e íamos almoçar em casa.”

“Gessos, dentes partidos, joelhos ralados...Alguém se queixava disso?”

“A pé ou de bicicleta, íamos à casa dos nossos amigos, mesmo que morassem a kms de nossa casa.”

“Comíamos doces à vontade, pão com manteiga, bebidas com (o perigoso) açúcar. Não se falava de obesidade – brincávamos sempre na rua e éramos super ativos...”

“Dividíamos com nossos amigos uma Tubaína comprada naquela vendinha da esquina, gole a gole e nunca ninguém morreu por isso...”

“Nada de Playstations, Nintendo 64, X boxes, jogos de Vídeo, Internet por satélite, videocassete, Dolby surround, celular com câmera, computador, chats na internet... Só amigos.”

“É verdade! Lá fora, nesse mundo cinzento e sem segurança! Como era possível? Jogávamos futebol na rua, com a trave sinalizada por duas pedras, e mesmo que não fôssemos escalados... ninguém ficava frustrado e nem era o “fim do mundo”!”

Esses são só alguns trechos citados no e-mail que me trouxeram algumas reflexões.

Ocorreu uma mudança concreta no mundo que vivemos, não existe mais essa segurança que permitia uma enorme liberdade às crianças e a tranqüilidade aos pais. Aconteceram também mudanças tecnológicas, o grande avanço nessa área trouxe uma grande variedade de jogos eletrônicos que seduz as crianças e jovens. Talvez a junção de um “mundo perigoso” nas ruas com a oferta de brinquedos eletrônicos com a segurança do lar trouxe para a geração atual certo comodismo. Hoje os brinquedos vêm prontos, é só abrir a embalagem e jogar, são complexos e exigem raciocínio lógico e rápido. Ou seja, ao mesmo tempo que limitam a criação de novos brinquedos e brincadeiras ativas envolvendo habilidades corporais, também dão agilidade de raciocínio, fazem as coisas acontecerem rápido e assim dão um ritmo mais acelerado e dinâmico para o dia-a-dia.

Nossa sociedade exige esse ritmo dinâmico que nos traz velocidade e facilidade de comunicação, mas que também pode adoecer por isso. Um excesso de estímulos dificulta a concentração e assim traz dificuldades para concluir as atividades. Essa dificuldade de discriminar e se organizar em meio a tantas informações é chamada de ansiedade de informação pelo americano Richard Saul Wurman autor do livro “Ansiedade de Informação”. Esse excesso contribui para adultos ansiosos e inseguros frente ao seu desempenho perante a vida de um modo geral, sentindo-se sempre aquém das expectativas da sociedade, e crianças e adolescentes que não aprendem a lidar com fracassos de uma forma mais natural, numa sociedade, que de fato é cruel nas suas exigências e competitividade.

Ficam as contradições... Os avanços tecnológicos que nos facilitam a vida em muitos momentos e também são importantes e fundamentais instrumentos de comunicação e integração de conhecimentos entre adultos, jovens e crianças de um lado e de outro a falta de tempo e percepção para os pequenos prazeres e sutilezas do dia-a-dia e das relações humanas.

3 comentários:

  1. É isso aí, Nara, ficam as contradições. E, apesar das muitas e grandes vantagens da infância do passado em relação à atual, não podemos desmerecê-la, pois como você disse também tem seus méritos, apesar dos problemas. Cada época tem seus pontos fortes e fracos, seus avanços e suas enfermidades, seus problemas e soluções. Se me perguntarem, claro que vou preferir a minha infância à de hoje... talvez algumas crianças de hoje também o prefiram, outras não.
    O importante em tudo isso é identificarmos o que há de bom, e o que precisa ser melhorado para proporcionar às crianças saúde e alegria, pois isso, acredito, continua sendo o grande significado e "objetivo" da infância. Todo o resto poderá ser conquistado ao longo da vida adulta.

    ResponderExcluir
  2. Definitivamente, a tecnologia não trouxe felicidade; pelo contrário, parece que, como nunca antes, nos mostrou nossa verdadeira questão existencial neste mundo. Para muitos, transparece como uma sensação constante de vazio e insegurança, que buscam camuflá-la através de um ritmo de vida desesperado e busca de prazeres efêmeros.

    ResponderExcluir
  3. E Gilberto Gil já pré-dizia em 1968 na sua música "Cérebro eletrônico" algumas das limitações da tecnologia frente a certas possibilidades e necessidades humanas ...

    "O cérebro eletrônico faz tudo
    Faz quase tudo
    Faz quase tudo
    Mas ele é mudo
    O cérebro eletrônico comanda
    Manda e desmanda
    Ele é quem manda
    Mas ele não anda
    Só eu posso pensar
    Se Deus existe
    Só eu
    Só eu posso chorar
    Quando estou triste
    Só eu
    Eu cá com meus botões
    De carne e osso
    Eu falo e ouço. Hum
    Eu penso e posso
    Eu posso decidir
    Se vivo ou morro por que
    Porque sou vivo
    Vivo pra cachorro e sei
    Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
    No meu caminho inevitável para a morte
    Porque sou vivo
    Sou muito vivo e sei
    Que a morte é nosso impulso primitivo e sei
    Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
    Com seus botões de ferro e seus
    Olhos de vidro"

    ResponderExcluir