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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Obrigações afetivas e Lealdades invisíveis

Em 19 de setembro corrente, li um texto bastante contundente intitulado "Protocolos do afeto" na Folha de SP de autoria de Luiz Felipe Pondé. Guardei-o desde então, com o intuito de comentá-lo, posto ser um ponto de vista tão interessante quanto polêmico dependendo das crenças e valores envolvidos em sua análise. O autor começa o texto com a seguinte afirmação: "Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une. Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa. Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto" e por aí vai o texto falando de algo que poucos ousam questionar pelo menos abertamente, sobre a obrigatoriedade do amor entre pessoas de uma mesma familia. O fato é que, a verdade de cada um, seja velada ou não, com relação aos próprios sentimentos e sofrimentos oriundos de nossas inserções familiares, é deixada na melhor das hipóteses para ser revelada entre as 4 paredes dos nossos consultórios e na pior delas na forma dos atos violentos intra-famílias que vemos diariamente por aí nos noticiários policiais. Digo isso porque, dias antes de ler esse texto, havia saído de um atendimento com o sentimento de ter possibilitado a ressignificação de um grave dilema, relativo a um segredo familiar causador de muito sofrimento durante a vida inteira de uma pessoa. Meu pensamento era de, talvez pela onipotência, própria dos terapeutas, poder ter ajudado a diminuir o sofrimento daquela pessoa que estava ali naquele momento. Por outro ângulo, meu lado mais leigo e humano sentiu uma revolta e uma impotência enormes ao se dar conta da universalidade daquele sofrimento presenciado e imaginando o número de vezes em que ele se repete em tantas famílias cotidianamente. Acabo por concluir, que a obrigatoriedade dos protocolos afetivos (a obrigatoriedade de amar, de conviver e muitas vezes de concordar com aquilo que discordamos) como se refere o autor do texto, ou de outro modo, de acordo com a visão sistêmica, a obrigatoriedade de atender às lealdades invisíveis entre os membros do grupo familiar, instituídas e existentes em todas as famílias através dos laços afetivos, podem consistir em formas, simplesmente, de garantir o pertencimento a algum lugar, de diminuir a sensação de solidão ou de desespero existencial inerente ao ser humano, por mais ambivalência de sentimentos que possa trazer consigo. O que fazer com tanta ambivalência, eis a questão... no fim, creio que cada um vai se virando de acordo com seus próprios recursos, contando um pouco com a sorte talvez, de fazer parte de uma família onde o acaso não seja o fator agregador de maior importância, pelo menos na hora de fazer filhos...

sábado, 3 de setembro de 2011

Árvore da Vida (fala um pouco de todos nós)


  • Trata-se de um filme prá quem gosta de sair pensando, pensando e pensando... tentando entender um pouco mais a intenção do diretor. Pela movimentação de entra e sai do cinema (eu nunca tinha visto isso acontecer até hoje) deu prá ver que não é um filme comum e que passa muito longe da unanimidade... eu gostei no todo, mas confesso que tive que exercitar um pouco da minha paciência com o formato meio lento das narrativas e das imagens que remetem ao big bang logo no início, na minha opinião, longas demais... Acho que dá prá interpretar a intenção de várias maneiras mas, prá mim, a explicação de tudo isso está no questionamento filosófico que é colocado logo no início do filme sobre dois modos de se ver o mundo: pela força da natureza ou pela crença-fé, que por sua vez é questionada por aquela família a partir da vivência da morte inesperada e prematura de um dos filhos. O filme gera uma angústia pelo sofrimento do menino mais velho, que acaba sendo o porta voz da dualidade vivida por todos ali, ora desejando ser aceito pelo pai, ora desejando sua morte, ora se esforçando prá ser bom, ora colocando prá fora sua raiva na forma de pequenas maldades... São dualidades próprias do ser humano expressas de forma extremada ali, onde tudo é radicalmente visto de modo maniqueísta, não há ponderação, não há negociação. Principalmente na ótica de uma criança prestes a entrar na adolescência e vivendo com o peso de ter que se diferenciar e ao mesmo tempo dever obediência, por um lado, a um pai autoritário e por outro a devoção a uma mãe extremamente amorosa e religiosa. É um filme que fala de coisas muito difíceis, pois trata de contradições e ambivalências existentes em todos nós, difíceis de entender, expressar e também de admitir. Mas ao final parece que o autor alivia um pouco a tensão, trazendo uma mensagem no sentido de valorizar a vivência dos laços de amor que acabam por dar sentido à vida de todos nós e que podem nos redimir ao final (pena que às vezes só mesmo ao final, quando muito já se perdeu).

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Obesidade, cirurgia bariatrica, aspectos emocionais envolvidos

Excelente materia publicada no Portal abaixo que trata amplamente da complexidade dos aspectos envolvidos no processo de avaliacao e preparo de pacientes com obesidade morbida indicados para a realizacao de cirurgia bariatrica.

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Meu filho, você não merece nada"


Compartilho esse texto excelente de Eliane Brum, e deixo para vocês os comentários!

Meu filho, você não merece nada
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.


Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.


Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.


Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.


Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.


É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?


Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.


Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.


Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.


A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.


Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.


Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.


Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.


Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.


O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.


Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.


Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.


Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.


Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

*Imagem retirada de blog: nectardeafrodite.blogspot.com

terça-feira, 12 de julho de 2011

Simples Assim

Compartilhando um vídeo para ilustrar minha última postagem:

http://www.youtube.com/watch?v=i1jjNCwSk8U

Por que os adultos complicam tanto?

sábado, 2 de julho de 2011

O primeiro casamento gay do Brasil


O colunista Michel Blanco, natural de Jacareí, interior paulista, traz em primeira mão a notícia do primeiro casamento gay do Brasil - em sua cidade natal. Michel não só noticia o fato, de forma até bem-humorada, como faz uma crítica ao ainda presente e crescente preconceito em nosso país. Vale à pena conferir o texto na íntegra.

Segue um trecho interessante, para instigar a curiosidade do leitor:

...Previsível que nesse ambiente o casamento entre gays sofra tanta resistência. O preconceito, nesse caso, parece ainda maior justamente pelo fato de o casamento ser, em tese, a coisa mais careta do mundo. Ou seja, uma inversão, como se o gay se recusasse a desempenhar o papel esperado pelo preconceito, em que a degeneração seria seu lugar apropriado.

A associação entre homossexualidade e depravação é o que conforta uma cabecinha recalcada, incapaz de imaginar um núcleo familiar fora dos moldes tradicionais, em que relações de poder não dão a liga, mas sim o amor. Confusão que talvez fosse melhor resolvida se não subtraíssem o sentido original do dístico positivista da bandeira nacional: “O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim”.

Confira na íntegra: http://colunistas.yahoo.net/posts/12064.html

Obs: a imagem postada não corresponde ao fato noticiado pelo colunista.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Falando em retrocessos e preconceitos...

Apesar de saber que falar em propriedades da cannabis sativa (vulgar maconha) mesmo que para uso medicinal, ainda configura-se em quase um mito no qual aqueles que o tocam podem, como tantos outros, ficarem com seus nomes colados e confundidos como apologistas da causa, admiro quem o possa fazer com a propriedade de quem produz ciencia com a seriedade e a responsabilidade que esta exige tambem na forma de comunicar seus intentos. Segue abaixo um texto produzido pelo neurobiologo Renato Malcher Lopes publicado na Folha de SP no dia 02 de maio de 2011 para Tendencias e Debates.

" Houve época em que o uso de determinadas plantas medicinais era considerado bruxaria, e às almas das bruxas restava receber benevolente salvação nas fogueiras da Inquisição. Atualmente, o estigma que a maconha carrega faz, para muitos, soar como blasfêmia lembrar que se trata, provavelmente, da mais útil e bem estudada planta medicinal que existe. Pior, no Brasil, se alguém quiser automedicar-se com essa planta, mesmo que seja para aliviar dores lancinantes ou náuseas insuportáveis, será considerado criminoso perante uma lei antiética, sustentada meramente por ignorância, moralismo e intolerância. Apesar de sua milenar reputação medicinal ser inequivocamente respaldada pela ciência moderna, no Brasil, a maconha e seus derivados ainda são oficialmente considerados drogas ilícitas sem utilidade médica. Constrangedoramente, acaba de ser anunciado, na Europa e nos EUA, o lançamento comercial do extrato industrializado de maconha, o Sativex, da GW Pharma. Enquanto isso, nossa legislação atrasada impede tanto o uso do extrato quanto o uso da planta in natura ou de seus princípios isolados. Consequentemente, pessoas em grande sofrimento são privadas das mais de 20 propriedades medicinais comprovadas nessa planta. Um vexame para o governo brasileiro, já que, em países como EUA, Canadá, Holanda e Israel, tais pessoas poderiam, tranquila e dignamente, aliviar seus sofrimentos com o uso da maconha e ver garantido seu direto de fazê-lo com o devido acompanhado médico. Ingeridos ou inalados por meio de vaporizadores (que não queimam a planta), os princípios ativos da maconha podem levar ao alívio efetivo e imediato de náuseas e falta de apetite em pacientes sob tratamento quimioterápico, de espasmos musculares da esclerose múltipla e de diversas formas severas de dor -muitas vezes resistentes aos demais analgésicos. Pesquisas recentes indicam também o potencial da maconha para o tratamento de doença de Huntington, do mal de Parkinson, de Alzheimer e de algumas formas de epilepsia e câncer. A redução da ansiedade e os efeitos positivos sobre o estado emocional são valiosas vantagens adicionais, que elevam sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas e, por conseguinte, seus prognósticos. A maconha não serve para todos: há contraindicações e grupos de risco, como gestantes, jovens em crescimento e pessoas com tendência à esquizofrenia. Em menos de 10% das pessoas o uso descontrolado pode gerar dependência psicológica reversível. Mas, ponderados riscos e benefícios, para a grande maioria das pessoas, a maconha continua a ser remédio seguro. A biotecnologia brasileira tem todas as condições para desenvolver variedades com diferentes proporções de princípios ativos, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia das plantas (ou de seus extratos) para cada caso. Indiferente, contudo, à ciência e à ética médica, a atual legislação brasileira sabota nossa pesquisa básica, clínica e biotecnológica nessa área de ponta e impede por completo a exploração assistida das preciosas e baratíssimas propriedades medicinais dessa planta. É hora de virar esta página carcomida pelo obscurantismo e pelo desdém com o sofrimento humano, fazendo valer não apenas direitos fundamentais dos indivíduos mas também as próprias diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por objetivo: "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".
RENATO MALCHER LOPES, neurobiólogo, mestre em biologia molecular e doutor em neurociências, é professor adjunto do departamento de fisiologia da Universidade de Brasília e coautor, com Sidarta Ribeiro, do livro "Maconha, Cérebro e Saúde" (twitter.com/Folhadebate)

sábado, 7 de maio de 2011

BARREIRA SUPERADA

Gostaria muito de ter tido tempo, ontem, para escrever a respeito da minha opinião sobre a nova conquista de toda a sociedade brasileira junto ao Supremo Tribunal Federal: o reconhecimento dos direitos das uniões entre homossexuais. Digo de toda a sociedade, e não somente daqueles que se beneficiarão diretamente dessa vitória, pois ela representa um avanço do Brasil rumo à democracia e ao respeito aos direitos de qualquer ser humano independente de sua cor, raça, idade, classe social ou orientações religiosa, sexual e política. Felizmente, de encontro às minhas expectativas, o Diário Catarinense trouxe em sua edição de hoje um muito bem escrito artigo sobre o assunto. Peço licença aos leitores (e ao autor do texto) para tomar de empréstimo as palavras escritas na sessão “editoriais” desse jornal.

"A decisão do Supremo, de reconhecer os direitos das uniões homoafetivas, representa um avanço não só para as pessoas diretamente beneficiadas. Ao deliberar, por 10 votos a zero, que o conceito de união e de família não pode se restringir a casais heterossexuais, o STF apenas reconhece uma realidade e contribui para a eliminação de discriminações e para a afirmação do direito à diversidade. A sessão histórica do Supremo corrige, com a formalização de norma jurídica, o descompasso das leis em relação à permanente evolução de modos de convivência, de costumes e até mesmo de referências morais. Como enfatizou o ministro Ricardo Lewandowski, uniões de pessoas do mesmo sexo devem ser reconhecidas pelo direito, porque dos fatos é que nasce esse direito.

Os direitos dos casais homoafetivos brasileiros vinham sendo reivindicados, nas últimas décadas, enquanto as legislações da maioria dos países evoluíam e acompanhavam a mudança de perfil do que se consagrou como família tradicional. Com o reconhecimento unânime do Supremo, são vitoriosos os que enfrentaram barreiras culturais, obstáculos legais e, em boa medida, até mesmo a intolerância, para que o Judiciário assegurasse aos homossexuais a igualdade assegurada pela Constituição.

O Brasil retardatário, no sentido de reconhecer esses direitos, era um país omisso. Sem ordenamento jurídico, as novas formas de relação se firmavam, em muitos casos, quase na clandestinidade, como se afrontassem modelos estáticos de família, de afeto e de busca da felicidade. Os benefícios agora assegurados aos homossexuais em nada ferem direitos e tampouco representam ofensa a valores religiosos ou culturais. Pelo contrário, reafirma-se, com a decisão do Supremo, o princípio constitucional de que ninguém deve ser discriminado por suas orientações religiosa, política e sexual. A ministra Ellen Gracie definiu, com poder de síntese, que são finalmente reconhecidos os direitos de quem, durante muito tempo, foi humilhado e ofendido, com identidade denegada e liberdades oprimidas. Pessoas, como destacou a ministra, que não são indivíduos distantes ou anônimos, mas nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho, nossos amigos e nossa família.

Observe-se que o ordenamento jurídico passa finalmente a contemplar as novas configurações da família contemporânea, apesar da omissão do Congresso. Câmara e Senado, provocados tantas vezes a legislar sobre o tema, deixaram de cumprir com suas atribuições, como já se repetiu em outras circunstâncias com questões relevantes. O Supremo, agora acusado por alguns setores de se apropriar de tarefas do Legislativo, foi provocado por duas ações encaminhadas à mais alta corte do país e optou por romper com o limbo jurídico, a partir da interpretação das garantias fundamentais da Constituição. No vácuo deixado pelos políticos, a Justiça ofereceu uma contribuição decisiva para que a sociedade seja mais tolerante e mais igualitária".

terça-feira, 3 de maio de 2011


De Humanos a Monstros

Por Lívia Monte.

Monstro, animal, fundamentalista, louco, estes foram os adjetivos empregados para falar sobre Welligton de Oliveira que no dia 7 de abril de 2011, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, deixando 12 crianças mortas.

Antes que me crucifiquem aqui, dizendo que o objetivo deste texto é defender o Monstro, gostaria de dizer que fiquei muito abalada com a tragédia e que não, não é minha intenção defender ninguém e sim provar que nós somos tão monstros quanto ele.

Talvez por isso o odiemos tanto, pois ele é a personificação de tudo que há de ruim em nós e isso é tão doloroso que foi preciso segregá-lo, diminuí-lo, para que assim possamos nos desviar, fingir e não assumir nossa parcela de culpa neste episódio.

Agora um questionamento para os que ainda não se convenceram de que são monstros:

-Qual a diferença entre a chacina da Candelária e a chacina de Realengo?

Permitam-me responder parafraseando as idéias da filósofa Judith Butler: há corpos que importam e outros que simplesmente não importam. Monstruoso, não é mesmo?

Claro que esse jovem de Realengo não foi nada original, quantas vezes vimos esses casos no país do Tio Sam? Um dos mais famosos aconteceu no dia 20 de abril de 1999 em que dois garotos abriram fogo contra professores e alunos na escola Columbine, localizada no estado do Colorado.

Assim como no caso brasileiro, no qual os culpados foram apontados como a loucura de Welligton e a falta de segurança nas escolas, os Estados Unidos também tinham os seus culpados para Columbine. Eram eles: os desenhos animados violentos e astro de rock Marilyn Manson.

No longa metragem Tiros em Columbine, documentário produzido pelo polêmico Michael Moore e inspirado nesse episódio de 1999, o réu Marilyn Manson ao ser perguntado sobre o que diria para os garotos de Columbine e a comunidade, respondeu:

-“Eu não diria uma única palavra para eles, eu ouviria o que eles têm a dizer, pois foi isso o que ninguém fez.”

Finalmente a personificação do medo, Marilyn Manson, abriu os olhos dos outros monstros para a verdadeira situação de Columbine e Realengo, que representam nada mais que a decorrência de uma sociedade monstruosa marcada pela segregação e a não escuta, onde os tiros são a única forma de se fazer ouvir.

Rubem Alves certa vez escreveu: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Então o que faremos? Eliminaremos os desenhos animados infantis? Prenderemos os roqueiros de aspecto diferente? Segregaremos a loucura decorrente de uma sociedade louca? Colocaremos detectores de metais na portas de nossas escolas?

Eu não sei quanto a vocês, quanto a mim Rubem Alves acabou de ganhar sua primeira aluna para o curso de escutatória.


Disponível em: http://desacato.info/2011/04/de-humanos-a-monstros/

sábado, 9 de abril de 2011

“Algumas” reflexões possíveis diante do massacre de crianças em uma escola carioca

Em primeiro lugar: coloco-me a postos para críticas e outras reflexões. Pus “algumas” entre aspas para justamente pontuar que muitas outras idéias poderiam ser escritas aqui, mas estas foram as que me brotaram ao ler sobre a notícia principal da mídia brasileira nos últimos três dias. Em segundo lugar: não tenho a posse de verdade alguma, apenas divido com outros o que me fez refletir. Quando mostro que me preocupa a visão dos fatos em termos de vítimas e culpados, simplesmente proponho um outro olhar possível sobre eles; não quero mesmo nomear ninguém. Conheço a lei de nosso país, coloco-me no lugar de extrema dor das famílias que perderam suas crianças e reconheço um culpado, sim. Mesmo assim, proponho algumas reflexões.

A responsabilidade social pela saúde mental: a sociedade poderia aproveitar esse momento para refletir sobre qual é o seu papel diante das inúmeras pessoas que sofrem com distúrbios mentais em nosso país. As famílias, as comunidades, as escolas, as empresas, o poder público, poderiam olhar melhor para essa pessoa que se apresenta como um diferente, um estranho, um “esquisito” e se perguntarem o que poderiam fazer para ajudá-lo, incluí-lo socialmente, dar sentido à sua vida, possibilitar-lhe o convívio social, o afeto, a dignidade. Cada vez é maior o número de pessoas que sofrem com algum distúrbio de ordem psíquica em nosso país e em todo o mundo. E o ritmo de nossas vidas na contemporaneidade, as exigências a que estamos todos submetidos, as pressões do cotidiano que sofremos desde a infância até a velhice, a diminuição do contato e do afeto interpessoal em detrimento do medo, da violência ou mesmo de interesses outros, só fazem aumentar esse contingente. É papel político da medicina e da psicologia, mas também de toda a sociedade construir um novo olhar, ou um olhar de fato, para o problema que se apresenta mas tantas vezes é colocado de lado: as pessoas precisam de ajuda, as pessoas precisam de afeto. Precisam de respeito às suas singularidades, precisam de apoio, precisam ser vistas, ouvidas e sentidas.

A responsabilidade da escola por propagar a paz e o respeito mútuo entre seus alunos: não é a primeira vez que uma suposta vítima de bulliyng nas escolas opta por uma solução trágica para seu sofrimento, que se propaga anos e anos após já ter concluído os estudos e saído da instituição onde os realizou. Quem não sofre o preconceito, a injustiça, a solidão e a profunda tristeza que causam no sujeito essa prática discriminatória, não imagina o quanto ela é capaz de se propagar e persistir no tempo, no corpo, nas atitudes, nos pensamentos e principalmente no afeto daquele que a sofreu, bem como em toda a sua história a partir dali. É papel da escola e da família a educação para o respeito, a cidadania, a paz e o entendimento entre as pessoas. É também papel de ambas educar para o afeto, para a amizade, a compreensão, a comunicação. Parece tolo dizer isso, mas esses valores se perderam diante da exigência de ensinar nossos alunos e filhos a “vencerem”. Do que adianta sermos vencedores se diante de situações como essas não achamos solução ou explicação que nos conforte? É preciso reformularmos nossos conceitos, nossos valores.

A responsabilidade das escolas pela segurança dos seus alunos e professores: diante de uma fatalidade como a que aconteceu na última quinta-feira no Rio, me pergunto se haveria alguma chance de aquela escola ter evitado a tragédia da qual foi vítima. Ter câmeras na entrada, guardas, detectores de metais, talvez? Mas também me parece, por outro lado, que o sujeito realizaria seu plano de uma forma ou outra, talvez. Pergunto-me, também, quem são todas as vítimas desse momento: as crianças mortas, as feridas, as que presenciaram a situação. Os professores, toda a escola. As famílias, a comunidade. O próprio atirador, uma vítima da vida, dos outros, da sociedade, da mídia e de si mesmo, bem provavelmente. Sua família – seus irmãos adotivos, que serão lembrados e rechaçados por um bom tempo. Todos são vítimas, todos são responsáveis também. Há e não há culpados. Parece-me que tamanha fatalidade não pode ser resumida à eleição de quem errou e de quem sofreu. É muito mais sério e complexo do que isso. Algo que se construiu individualmente (no sentido do isolamento mórbido em que se afundou Wellington para mapear seu plano), mas também social e historicamente.

A responsabilidade da família: a família terá sempre uma grande responsabilidade pela saúde mental dos “seus”. Ali, na família, muitas coisas se constroem (assim como se destroem) – como será o afeto, a relação entre irmãos, pais e filhos, o casal, filhos adotivos, enteados e enteadas, padrastos, madrastas, avós. Os valores e não-valores perpassados em cada atitude, em cada olhar, em cada palavra dita ou não dita, em cada ausência, em cada presença sufocante. É ali que muitas vezes começa o primeiro isolamento de alguém que não se sente desse mundo, ou daquele lugar, ou dessa família, ou daquela escola. É ali que pode começar o sentimento de alguém que não se sente nem de si mesmo, e que se entrega a uma seita, a um deus, a um dogma ou simplesmente a uma obsessão, ou quem sabe a um medo profundo. O papel da família, novamente, é o olhar. Em primeiro lugar. O olhar, o perceber, o sentir. Questionar, perguntar. Perceber. Pedir ajuda, quando não sabe o que fazer.

A responsabilidade da mídia: jornais, televisão, internet. O que se faz com o fato e o que isso repercute na vida das pessoas. A internet é uma fonte de tudo-o-que-se-pode-imaginar-e-não-imaginar. Ali tem tudo, para qualquer gosto ou objetivo. Não imagino o que poderia ser feito a respeito, mas vejo-a como um terreno perigoso. É também dentro da família que esse terreno pode ser cercado, restrito. É só não ligar o PC. Também é só não ligar a TV ou abrir o jornal. Mas, será possível na contemporaneidade conviver sem isso? Não estaria a mídia dando idéias a um jovem que hoje também pensa em se vingar da vida, como o fez Wellington? Mas não se trata de culpa, novamente, e sim de responsabilidade. Todos temos a responsabilidade de refletir sobre o papel da mídia, e sobre o espaço que ela deve e/ou precisa ocupar em nossas vidas, nossa mente, nossa família. A mídia e a sociedade também devem se responsabilizar por essa reflexão: qual o papel da mídia!

E, para terminar: que pena do Rio e dos cariocas... que parecem estar afundados num mar de fatalidades tristes. Nas manchetes de jornais fora do país, não há como não relacionar esse fato isolado à toda violência “de outra natureza” – se é que posso falar assim – que ali se passa. O Rio, nos últimos tempos, tem chorado muito por suas perdas. Seja pela violência, seja pela catástrofe natural da qual foi vítima recentemente, seja por esse triste massacre de crianças por um pobre sujeito isolado e doente. E novamente me pergunto, quem são as reais vítimas. E tudo isso, espero que não fique sem as devidas reflexões frente à Copa, que se aproxima. Temos que refletir sobre isso!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Solidão crônica (ou) por opção, eis a questão ...

No dia 26 de março de 2011, sábado, no caderno Ilustrada da Folha de SP, Dráuzio Varella escreve sob o titulo “Solidão crônica”. Tece em seu texto, relações entre o isolamento social e os riscos de doenças cardiovasculares, as depressões e a incidência de infecções, demonstradas em mais de cem estudos epidemiológicos a partir dos anos 1980. Sluzki, autor sistêmico, defende a importância de redes sociais saudáveis e confiáveis para a saúde física e mental dos individuos no livro "Rede social na prática sistêmica". Voltando a Varella: “A solidão crônica interfere com a qualidade do sono, é causa de fadiga e reduz a sensação de prazer associada a atividades recreativas. Para agravar o isolamento , os já solitários tendem a reagir negativamente aos estímulos e a desenvolver impressões depreciativas a respeito das pessoas com as quais interagem [...] Estudos com irmãos gêmeos revelam que a solidão crônica não depende exclusivamente das características do meio, mas apresenta aspectos hereditários. É como se existisse um ‘ termostato genético’ para a capacidade de lidar com a solidão, ajustado em níveis diferentes em cada um de nós”. Isto explicaria segundo esta visão, a intensidade da dor sentida por cada um de nós quando estamos sós. Em 04 de abril de 2011, segunda-feira, também no caderno Ilustrada do mesmo jornal, leia-se matéria sobre um escultor polonês de quase 90 anos, cuja familia foi dizimada pelo nazismo, Frans Krajcberg, que se isola cada vez mais, há 4 décadas, na mata que ele mesmo plantou em um sitio no sul da Bahia e alega: “fugi do homem para morar na floresta”. Como seria o impacto para a saúde e bem estar de uma pessoa quando se trata de uma decisão de estar completamente sozinho, é a pergunta que emerge quando leio ambas as matérias. É possível viver sozinho, sofrendo menos, por escolha própria ... que coisas favorecem esta escolha, se é que se trata de uma escolha pelo menos em um plano consciente ... Mas não sei se precisamos ir tão longe ... vivemos em um mundo no qual a inovação tecnológica favorece freneticamente, em tese, possibilidades ilimitadas de interações sociais com a participação em inúmeras redes sociais em tempo real. Paradoxalmente, o número de pessoas que chegam até nós para falar de sua solidão e da sua dificuldade de compartilhar seus sentimentos mais íntimos, mesmo com as pessoas com quem convivem mais proximamente, é cada vez maior. Qual seria afinal a pior solidão: aquela que é compartilhada com alguém ou aquela que optamos por escolha pessoal depois de muito tentar conviver com nossos iguais ... Ficam aí algumas perguntas sem resposta ...