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terça-feira, 5 de abril de 2011

Solidão crônica (ou) por opção, eis a questão ...

No dia 26 de março de 2011, sábado, no caderno Ilustrada da Folha de SP, Dráuzio Varella escreve sob o titulo “Solidão crônica”. Tece em seu texto, relações entre o isolamento social e os riscos de doenças cardiovasculares, as depressões e a incidência de infecções, demonstradas em mais de cem estudos epidemiológicos a partir dos anos 1980. Sluzki, autor sistêmico, defende a importância de redes sociais saudáveis e confiáveis para a saúde física e mental dos individuos no livro "Rede social na prática sistêmica". Voltando a Varella: “A solidão crônica interfere com a qualidade do sono, é causa de fadiga e reduz a sensação de prazer associada a atividades recreativas. Para agravar o isolamento , os já solitários tendem a reagir negativamente aos estímulos e a desenvolver impressões depreciativas a respeito das pessoas com as quais interagem [...] Estudos com irmãos gêmeos revelam que a solidão crônica não depende exclusivamente das características do meio, mas apresenta aspectos hereditários. É como se existisse um ‘ termostato genético’ para a capacidade de lidar com a solidão, ajustado em níveis diferentes em cada um de nós”. Isto explicaria segundo esta visão, a intensidade da dor sentida por cada um de nós quando estamos sós. Em 04 de abril de 2011, segunda-feira, também no caderno Ilustrada do mesmo jornal, leia-se matéria sobre um escultor polonês de quase 90 anos, cuja familia foi dizimada pelo nazismo, Frans Krajcberg, que se isola cada vez mais, há 4 décadas, na mata que ele mesmo plantou em um sitio no sul da Bahia e alega: “fugi do homem para morar na floresta”. Como seria o impacto para a saúde e bem estar de uma pessoa quando se trata de uma decisão de estar completamente sozinho, é a pergunta que emerge quando leio ambas as matérias. É possível viver sozinho, sofrendo menos, por escolha própria ... que coisas favorecem esta escolha, se é que se trata de uma escolha pelo menos em um plano consciente ... Mas não sei se precisamos ir tão longe ... vivemos em um mundo no qual a inovação tecnológica favorece freneticamente, em tese, possibilidades ilimitadas de interações sociais com a participação em inúmeras redes sociais em tempo real. Paradoxalmente, o número de pessoas que chegam até nós para falar de sua solidão e da sua dificuldade de compartilhar seus sentimentos mais íntimos, mesmo com as pessoas com quem convivem mais proximamente, é cada vez maior. Qual seria afinal a pior solidão: aquela que é compartilhada com alguém ou aquela que optamos por escolha pessoal depois de muito tentar conviver com nossos iguais ... Ficam aí algumas perguntas sem resposta ...

2 comentários:

  1. É, amiga, novamente me vem a questão da responsabilidade social ao ler seu texto. A responsabilidade e o papel da mídia, também - que agrega e ao mesmo tempo isola. A solidão pode e gera muitas doenças, como afirma Varela. Mas a cada dia vemos mais forte o paradoxo: as pessoas se preocupam só consigo mesmas e seus "núcleos", mas sentem cada vez mais falta de um tipo de convívio social que não existe mais. Um convívio sem os medos da violência, onde cada um podia confiar no seu vizinho, dar bom dia a um desconhecido na rua, deixar a conta "pendurada" no mercado do bairro, deixar a porta da casa aberta para ir logo ali, falar dos seus problemas com um conhecido e confiar no conselho do mais experiente. Por outro lado, essa mesma sociedade não suporta mais a si mesma, ao seu igual, e quando enxerga de fato a verdade sem máscaras por traz das relações e de como elas hoje se estabelecem, prefere fugir e se isolar, conscientemente. Parabéns pelo texto, muito bem escrito!

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  2. Selma, parabéns pelo texto e pelo tema.
    Acredito que, apesar de termos mais acessos a diversas formas de comunicação e redes sociais ilimitadas, como comentado pela Selma, é possível que no ritmo atual de nossa sociedade as relações humanas estejam cada vez mais impessoais, o que explicaria tanto sentimento de solidão.

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