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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Falando em retrocessos e preconceitos...

Apesar de saber que falar em propriedades da cannabis sativa (vulgar maconha) mesmo que para uso medicinal, ainda configura-se em quase um mito no qual aqueles que o tocam podem, como tantos outros, ficarem com seus nomes colados e confundidos como apologistas da causa, admiro quem o possa fazer com a propriedade de quem produz ciencia com a seriedade e a responsabilidade que esta exige tambem na forma de comunicar seus intentos. Segue abaixo um texto produzido pelo neurobiologo Renato Malcher Lopes publicado na Folha de SP no dia 02 de maio de 2011 para Tendencias e Debates.

" Houve época em que o uso de determinadas plantas medicinais era considerado bruxaria, e às almas das bruxas restava receber benevolente salvação nas fogueiras da Inquisição. Atualmente, o estigma que a maconha carrega faz, para muitos, soar como blasfêmia lembrar que se trata, provavelmente, da mais útil e bem estudada planta medicinal que existe. Pior, no Brasil, se alguém quiser automedicar-se com essa planta, mesmo que seja para aliviar dores lancinantes ou náuseas insuportáveis, será considerado criminoso perante uma lei antiética, sustentada meramente por ignorância, moralismo e intolerância. Apesar de sua milenar reputação medicinal ser inequivocamente respaldada pela ciência moderna, no Brasil, a maconha e seus derivados ainda são oficialmente considerados drogas ilícitas sem utilidade médica. Constrangedoramente, acaba de ser anunciado, na Europa e nos EUA, o lançamento comercial do extrato industrializado de maconha, o Sativex, da GW Pharma. Enquanto isso, nossa legislação atrasada impede tanto o uso do extrato quanto o uso da planta in natura ou de seus princípios isolados. Consequentemente, pessoas em grande sofrimento são privadas das mais de 20 propriedades medicinais comprovadas nessa planta. Um vexame para o governo brasileiro, já que, em países como EUA, Canadá, Holanda e Israel, tais pessoas poderiam, tranquila e dignamente, aliviar seus sofrimentos com o uso da maconha e ver garantido seu direto de fazê-lo com o devido acompanhado médico. Ingeridos ou inalados por meio de vaporizadores (que não queimam a planta), os princípios ativos da maconha podem levar ao alívio efetivo e imediato de náuseas e falta de apetite em pacientes sob tratamento quimioterápico, de espasmos musculares da esclerose múltipla e de diversas formas severas de dor -muitas vezes resistentes aos demais analgésicos. Pesquisas recentes indicam também o potencial da maconha para o tratamento de doença de Huntington, do mal de Parkinson, de Alzheimer e de algumas formas de epilepsia e câncer. A redução da ansiedade e os efeitos positivos sobre o estado emocional são valiosas vantagens adicionais, que elevam sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas e, por conseguinte, seus prognósticos. A maconha não serve para todos: há contraindicações e grupos de risco, como gestantes, jovens em crescimento e pessoas com tendência à esquizofrenia. Em menos de 10% das pessoas o uso descontrolado pode gerar dependência psicológica reversível. Mas, ponderados riscos e benefícios, para a grande maioria das pessoas, a maconha continua a ser remédio seguro. A biotecnologia brasileira tem todas as condições para desenvolver variedades com diferentes proporções de princípios ativos, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia das plantas (ou de seus extratos) para cada caso. Indiferente, contudo, à ciência e à ética médica, a atual legislação brasileira sabota nossa pesquisa básica, clínica e biotecnológica nessa área de ponta e impede por completo a exploração assistida das preciosas e baratíssimas propriedades medicinais dessa planta. É hora de virar esta página carcomida pelo obscurantismo e pelo desdém com o sofrimento humano, fazendo valer não apenas direitos fundamentais dos indivíduos mas também as próprias diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por objetivo: "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".
RENATO MALCHER LOPES, neurobiólogo, mestre em biologia molecular e doutor em neurociências, é professor adjunto do departamento de fisiologia da Universidade de Brasília e coautor, com Sidarta Ribeiro, do livro "Maconha, Cérebro e Saúde" (twitter.com/Folhadebate)

sábado, 7 de maio de 2011

BARREIRA SUPERADA

Gostaria muito de ter tido tempo, ontem, para escrever a respeito da minha opinião sobre a nova conquista de toda a sociedade brasileira junto ao Supremo Tribunal Federal: o reconhecimento dos direitos das uniões entre homossexuais. Digo de toda a sociedade, e não somente daqueles que se beneficiarão diretamente dessa vitória, pois ela representa um avanço do Brasil rumo à democracia e ao respeito aos direitos de qualquer ser humano independente de sua cor, raça, idade, classe social ou orientações religiosa, sexual e política. Felizmente, de encontro às minhas expectativas, o Diário Catarinense trouxe em sua edição de hoje um muito bem escrito artigo sobre o assunto. Peço licença aos leitores (e ao autor do texto) para tomar de empréstimo as palavras escritas na sessão “editoriais” desse jornal.

"A decisão do Supremo, de reconhecer os direitos das uniões homoafetivas, representa um avanço não só para as pessoas diretamente beneficiadas. Ao deliberar, por 10 votos a zero, que o conceito de união e de família não pode se restringir a casais heterossexuais, o STF apenas reconhece uma realidade e contribui para a eliminação de discriminações e para a afirmação do direito à diversidade. A sessão histórica do Supremo corrige, com a formalização de norma jurídica, o descompasso das leis em relação à permanente evolução de modos de convivência, de costumes e até mesmo de referências morais. Como enfatizou o ministro Ricardo Lewandowski, uniões de pessoas do mesmo sexo devem ser reconhecidas pelo direito, porque dos fatos é que nasce esse direito.

Os direitos dos casais homoafetivos brasileiros vinham sendo reivindicados, nas últimas décadas, enquanto as legislações da maioria dos países evoluíam e acompanhavam a mudança de perfil do que se consagrou como família tradicional. Com o reconhecimento unânime do Supremo, são vitoriosos os que enfrentaram barreiras culturais, obstáculos legais e, em boa medida, até mesmo a intolerância, para que o Judiciário assegurasse aos homossexuais a igualdade assegurada pela Constituição.

O Brasil retardatário, no sentido de reconhecer esses direitos, era um país omisso. Sem ordenamento jurídico, as novas formas de relação se firmavam, em muitos casos, quase na clandestinidade, como se afrontassem modelos estáticos de família, de afeto e de busca da felicidade. Os benefícios agora assegurados aos homossexuais em nada ferem direitos e tampouco representam ofensa a valores religiosos ou culturais. Pelo contrário, reafirma-se, com a decisão do Supremo, o princípio constitucional de que ninguém deve ser discriminado por suas orientações religiosa, política e sexual. A ministra Ellen Gracie definiu, com poder de síntese, que são finalmente reconhecidos os direitos de quem, durante muito tempo, foi humilhado e ofendido, com identidade denegada e liberdades oprimidas. Pessoas, como destacou a ministra, que não são indivíduos distantes ou anônimos, mas nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho, nossos amigos e nossa família.

Observe-se que o ordenamento jurídico passa finalmente a contemplar as novas configurações da família contemporânea, apesar da omissão do Congresso. Câmara e Senado, provocados tantas vezes a legislar sobre o tema, deixaram de cumprir com suas atribuições, como já se repetiu em outras circunstâncias com questões relevantes. O Supremo, agora acusado por alguns setores de se apropriar de tarefas do Legislativo, foi provocado por duas ações encaminhadas à mais alta corte do país e optou por romper com o limbo jurídico, a partir da interpretação das garantias fundamentais da Constituição. No vácuo deixado pelos políticos, a Justiça ofereceu uma contribuição decisiva para que a sociedade seja mais tolerante e mais igualitária".

terça-feira, 3 de maio de 2011


De Humanos a Monstros

Por Lívia Monte.

Monstro, animal, fundamentalista, louco, estes foram os adjetivos empregados para falar sobre Welligton de Oliveira que no dia 7 de abril de 2011, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, deixando 12 crianças mortas.

Antes que me crucifiquem aqui, dizendo que o objetivo deste texto é defender o Monstro, gostaria de dizer que fiquei muito abalada com a tragédia e que não, não é minha intenção defender ninguém e sim provar que nós somos tão monstros quanto ele.

Talvez por isso o odiemos tanto, pois ele é a personificação de tudo que há de ruim em nós e isso é tão doloroso que foi preciso segregá-lo, diminuí-lo, para que assim possamos nos desviar, fingir e não assumir nossa parcela de culpa neste episódio.

Agora um questionamento para os que ainda não se convenceram de que são monstros:

-Qual a diferença entre a chacina da Candelária e a chacina de Realengo?

Permitam-me responder parafraseando as idéias da filósofa Judith Butler: há corpos que importam e outros que simplesmente não importam. Monstruoso, não é mesmo?

Claro que esse jovem de Realengo não foi nada original, quantas vezes vimos esses casos no país do Tio Sam? Um dos mais famosos aconteceu no dia 20 de abril de 1999 em que dois garotos abriram fogo contra professores e alunos na escola Columbine, localizada no estado do Colorado.

Assim como no caso brasileiro, no qual os culpados foram apontados como a loucura de Welligton e a falta de segurança nas escolas, os Estados Unidos também tinham os seus culpados para Columbine. Eram eles: os desenhos animados violentos e astro de rock Marilyn Manson.

No longa metragem Tiros em Columbine, documentário produzido pelo polêmico Michael Moore e inspirado nesse episódio de 1999, o réu Marilyn Manson ao ser perguntado sobre o que diria para os garotos de Columbine e a comunidade, respondeu:

-“Eu não diria uma única palavra para eles, eu ouviria o que eles têm a dizer, pois foi isso o que ninguém fez.”

Finalmente a personificação do medo, Marilyn Manson, abriu os olhos dos outros monstros para a verdadeira situação de Columbine e Realengo, que representam nada mais que a decorrência de uma sociedade monstruosa marcada pela segregação e a não escuta, onde os tiros são a única forma de se fazer ouvir.

Rubem Alves certa vez escreveu: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Então o que faremos? Eliminaremos os desenhos animados infantis? Prenderemos os roqueiros de aspecto diferente? Segregaremos a loucura decorrente de uma sociedade louca? Colocaremos detectores de metais na portas de nossas escolas?

Eu não sei quanto a vocês, quanto a mim Rubem Alves acabou de ganhar sua primeira aluna para o curso de escutatória.


Disponível em: http://desacato.info/2011/04/de-humanos-a-monstros/